DESALINHO
Eunice Tomé
Debaixo dos pés as folhas farfalham.
Trazem segredos milenares de outros passantes.
Imperceptíveis, elas contam histórias
àqueles que sabem ouvir as profundezas.
Povos, raças, cores, nem sempre pacíficas,
vão se desdobrando,
renovadas com o frescor do agora.
Presente também cheio de conflitos,
de genocídios, de guerras entre irmãos.
Onde está a sensatez?
A cultura não os ensinou que matar,
seja de fome, de ignorância
ou com armas poderosas,
só faz o mundo retroceder?
Choram alguns, gargalham outros.
A ferida fétida aberta demora a se reconstruir.
Enquanto o poder campeia e rios do vil metal
enchem as contas bancárias.
E os rios, que correm para o mar, poluídos,
pois nem a natureza bela e farta escapa.
Ganância do homem.
E as folhas, nesse diapasão,
vão deixar de existir
e não mais contarão segredos.